Como escrevi no CD Surf, há quem conte a vida em festas. Há quem a conte em tragédias, ou em casamentos, ou até em casamentos-tragédia. Eu poderia contá-la em discos, seria o óbvio.
Nasci dois meses depois do Brasil ser bicampeão mundial. De lá até aqui, são 13 copas. A primeira que realmente acompanhei foi a de 70, a primeira que passou ao vivo na TV, em preto-e-branco, ou, como diz Chico Buarque, em branco-e-preto. Fiquei deslumbrada com a seleção brasileira, e me apaixonei por futebol ali, vendo Pelé, crente que era normal jogar igual a ele! Com certeza era o standard desse esporte. Perfeita ilusão de perfeição.
Conta-se que um vizinho militar saiu só de cuecas pela rua Haddock Lobo para comemorar o título: Um lance meio Fellini.
Todo o nosso prédio se reunia para ver os jogos no mesmo apartamento: Um lance meio Nelson Rodrigues.
Em 74, caí na realidade. O Brasil não seria campeão todas as vezes, como eu acreditava e considerava e ainda considero ser o mais justo. Tentam me convencer de que isso tiraria a graça do campeonato, mas não conseguem; eu continuo que nem neném quando gosta de uma brincadeira: “De novo! De novo! De novo!”
Xinguei argentinos em 78, chorei ao som de Vc n soube me amar recém-lançada em 82, me decepcionei comendo machas gratinadas no Chile em 86, tapei os ouvidos (e os olhos...) do Gabriel recém-nascido em 90, bati figurinha com as crianças em 94, escrevi colunas pro Globo em 98, fui para a rua de madrugada (sem cuecas) receber os pentacampeões em 2002...ufa!
Vida é o que a gente faz entre Copas.
BJP